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Arraiá BNews: Saiba onde acontece as tradicionais guerras de espada e entenda o risco

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Tradição e Perigo: A Polêmica da Guerra de Espadas no Recôncavo Baiano; saiba o risco  |   Bnews - Divulgação Reprodução Redes Sociais
Juliana Barbosa

por Juliana Barbosa

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Publicado em 20/06/2024, às 05h30



Há mais de um século, a Guerra de Espadas se tornou uma tradição polêmica e que reúne pessoas para, literalmente, brincar com fogo, principalmente no São João. Esse evento é enraizado nas cidades do recôncavo baiano, como Cachoeira, Cruz das Almas, Muritiba, e também presente um pouco mais distante, em Senhor do Bonfim. Durante as noites de junho e início de julho, as ruas se transformam em 'campos de batalha' onde espadeiros acendem fogos de artifício e simulam combates. 

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A espada junina é um artefato antigo, que evoluiu ao longo do tempo. Os materiais utilizados para sua produção incluem bambu, pólvora, limalha de ferro, barro e cordão de sisal. Muitos espadeiros se concentram para utilizar esses fogos de artifício que produzem um odor desagradável para alguns e um barulho intenso que impede os moradores de descansarem, resultando em noites mal dormidas.

As fachadas das casas frequentemente aparecem riscadas ao amanhecer, levando alguns moradores a protegerem suas propriedades com papelão ou tapumes. Para se proteger, alguns participantes utilizam roupas jeans, capacetes, luvas e óculos, prevenindo-se de queimaduras mais graves. 

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Proibição e Persistência 

 A subtenente do Corpo de Bombeiros, Sueli Dias Ribeiro, destaca que, embora rica em significado cultural, a prática da Guerra de Espadas é proibida pela Justiça baiana desde 2017. A decisão visa coibir a fabricação, transporte, comercialização e utilização desses artefatos devido aos altos riscos envolvidos. No entanto, a tradição persiste clandestinamente, desafiando as diretrizes do Ministério Público e das forças de segurança. "Casos de confronto à lei devem ser lavrados com autos de prisão em flagrante, sem conceder fiança, como prevê a Lei 10.826/2003, que classifica a espada junina como arma de fogo, sendo um artefato de uso e controle restrito", explica a subtenente. 

Riscos e Consequências 

A produção das espadas é artesanal, muitas vezes em locais improvisados como barracões e depósitos, resultando em frequentes acidentes. O Cabo do Corpo de Bombeiros, Michel de Freitas Santos,  explica que os acidentes variam de incêndios a queimaduras de diferentes graus, afetando tanto os fabricantes quanto a população envolvida nas festividades. "As queimaduras de 1º grau melhoram em três a seis dias, podendo descamar sem deixar sequelas. Queimaduras de 2º grau envolvem a epiderme e a derme superficial, com bolhas e aparência úmida. Já as queimaduras de 3º grau são as mais graves, destruindo completamente a derme e afetando tecidos subcutâneos, nervos e até ossos", detalha Santos. 

O Soldado Bombeiro Militar, Mateus Aquino Pedreira Rabelo, ressalta a importância de cuidados específicos no tratamento de queimaduras. "É indicado esfriar o local ferido com água corrente por vários minutos, evitando tocar na queimadura, aplicar gelo, furar bolhas, descolar tecidos grudados ou usar substâncias inadequadas como manteiga ou creme dental", orienta Rabelo. 

Contexto Histórico 

 A espada é um artefato com séculos de existência, provavelmente de origem árabe do século XIV, inicialmente com função bélica O pesquisador Moacir Carvalho diz em seu artigo 'Brincando com fogo: origens e transformações da guerra de espadas em Cruz das Almas' que, possivelmente, a guerra de espadas no Recôncavo seria "o resultado de uma síntese simbólico-material entre motivos militares e religiosos", mas se transformando em um evento particular do São João

Até meados de 2009, a guerra envolvia disputas entre grupos pelo controle de espaços, utilizando espadas como armas simbólicas. Na década de 1940, o festejo era familiar e doméstico, enquanto nas décadas de 1960 e 1970, visava fascinar o público pela qualidade das espadas. Nos anos 1980, a prática se tornou um espetáculo exibido para um público mais amplo, com cobertura da mídia. 

A palavra "espada" está ligada à manipulação do artefato pelo "guerreiro", o participante das batalhas. A evolução da guerra de espadas reflete a transformação cultural e social do recôncavo baiano, permanecendo uma tradição que, apesar de sua proibição, continua a despertar paixão e polêmica. 

Classificação Indicativa: Livre

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