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Agricultura regenerativa melhora qualidade dos grãos e transforma as vidas das cafeicultoras do Cerrado Mineiro

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Vencedoras do Prêmio Mulheres do Agro compartilham suas conquistas como cafeicultoras e impacto de iniciativas sustentáveis  |   Bnews - Divulgação Divulgação / Pixabay
Verônica Macedo

por Verônica Macedo

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Publicado em 03/07/2024, às 08h00



O Brasil é o maior produtor de café do mundo, concentrando cerca de 38% da produção global do grão na safra 2023/2024, segundo dados do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA). No Cerrado Mineiro, região conhecida como o berço do café especial brasileiro, três mulheres comandam propriedades com iniciativas sustentáveis que as tornaram exemplos regionais.

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Elas preservam biomas, promovem o desenvolvimento científico de universidades, purificam nascentes, fornecem água às comunidades locais e mantém plantações autossuficientes em períodos de seca. 

Ana Paula Curiacos, Juliana Rezende e Mariana Veloso, compartilham mais do que a localização e a cultura do café em comum. Foram reconhecidas pelo Prêmio Mulheres do Agro, uma iniciativa da Bayer em parceria com a Associação Brasileira do Agronegócio (Abag). A responsabilidade socioambiental, aliada ao uso de tecnologia e inovação em suas fazendas, garantiu o primeiro lugar na categoria “pequena propriedade” para Ana Paula em 2023, para Juliana em 2022, e o terceiro lugar na categoria “grande propriedade” para Mariana, também em 2023. 

Formada em Zootecnia, a paulista Ana Paula Curiacos está à frente da gestão da Fazenda Três Meninas, localizada em Monte Carmelo, desde 2016, ao lado de seu marido. Liderando parcerias com pesquisadores e universidades, a produtora tornou a fazenda pioneira em agricultura regenerativa na região. A propriedade se transformou em um espaço aberto a cursos de agronomia, engenharia florestal e cafeicultura, para que as futuras gerações obtenham uma visão mais ampla e atual das práticas agronômicas. Essa iniciativa expandiu as possibilidades de pesquisa e levou a zootecnista a palestrar em congressos e workshops, impactando mais de três mil pessoas nos últimos anos. 

A conservação do meio ambiente por meio de práticas regenerativas é um dos destaques de sua produção. Para isso, Ana Paula implementou ações na propriedade que cuidam das nascentes locais, criam corredores de biodiversidade, além de integrar o uso de biológicos para controlar as pragas. “Isso impactou positivamente os indicadores, mantendo alta produtividade e inspirando propriedades vizinhas e de outras regiões a seguirem o exemplo”, explica a produtora. 

Além do compromisso ambiental, a Fazenda Três Meninas também se preocupa com o impacto social de suas ações. Não à toa, a vencedora na categoria pequena propriedade do Prêmio Mulheres do Agro se tornou um ponto de referência na comunidade. “Embora sejamos pequenos produtores, nosso impacto é significativo. Garantimos água para mais de 7 mil pessoas em Iraí de Minas e transformamos a realidade local, por exemplo. Hoje, compartilhamos conhecimento com produtoras rurais que lideram outras fazendas e interessadas em fazer a diferença”, conta Ana Paula, destacando a importância de seu trabalho para o bem-estar da comunidade. 

Um olhar para a fauna local 

Também no município de Monte Carmelo, vive e trabalha a produtora rural Juliana Rezende. Formada em Farmácia, ela passou a se dedicar integralmente à cafeicultura em 2015 e, desde então, lidera os 88 hectares da Fazenda Santa Bárbara. A adoção de práticas sustentáveis foi um dos diferenciais que rendeu o primeiro lugar na categoria pequena propriedade do Prêmio Mulheres do Agro 2022. “Com meu olhar de farmacêutica, passei a focar na qualidade e segurança do café. A adoção de boas práticas agrícolas e o manejo regenerativo elevaram nossa qualidade, mostrando que a natureza e o meio ambiente são essenciais para alcançarmos o padrão dos cafés que entregamos hoje”, conta a produtora.

Pensando no equilíbrio ecossistêmico, Juliana criou iniciativas de preservação ambiental, projetos de capacitação para a comunidade local e métodos de mapeamento da fauna no entorno da fazenda. Com uso de bioindicadores, ela busca cuidar das espécies locais, ao mesmo tempo em que gera economia de recursos naturais. 

Para manter um manejo sustentável, Juliana desenvolveu projetos como 'Amigos do Rio' para uso inteligente da água, 'Love Bee' para a produção de abelhas nativas, e 'Café com Carbono' para medir e gerenciar o estoque de carbono nos pés de café. Outros projetos incluem 'Amigos da Floresta' para identificar animais locais e 'Jungle Friends' para estudar a interação dos animais com o café. A fazenda também mantém colmeias de abelhas sem ferrão, que produzem mel monofloral e servem como indicadores de segurança ambiental e alimentar. 

“Atualmente, temos 17 colmeias de abelhas sem ferrão, que funcionam como um berçário autossustentável, proporcionando a identificação de cinco espécies nativas, o que tem nos guiado na seleção das árvores mais adequadas para o plantio na região. Isso nos permite entender a interação entre as espécies de plantas e polinizadores, contribuindo para a manutenção prosperidade desse bioma do Cerrado”, ressalta a produtora. 

Mesmo à frente de tantas iniciativas, foi somente com o reconhecimento pelo Prêmio Mulheres do Agro que sua percepção sobre seu papel se transformou. Ao receber a premiação, Juliana percebeu que seu legado já estava impactando positivamente muitas pessoas e que ela era, de fato, uma protagonista na história da cafeicultura mineira. “Acredito que, não apenas para mim, mas também para minhas colegas de trabalho e outras produtoras, o prêmio é um reconhecimento de que os frutos de nossa dedicação estão sendo vistos”, conta. 

Tecnologia para um café premium 

A 340 quilômetros de distância de Belo Horizonte, em Carmo do Paranaíba, reside Mariana Veloso. Há 22 anos atuando na gestão da Veloso Coffee, aliou tecnologia a práticas regenerativas na propriedade e, com isso, conseguiu reduzir em até 50% o uso de insumos em sua fazenda. Seguindo a sucessão familiar, um dos diferenciais de sua gestão é a exportação do café para países como como Suíça, Itália, Alemanha e Estados Unidos. “Desde cedo, acompanho e participo ativamente da atividade cafeeira. Via meu pai trabalhando com a cultura. Quando percebi, já estava completamente envolvida no processo e apaixonada por tudo isso. Desde então, decidi estudar e evoluir na área”, conta Mariana. 

Em meio aos desafios de assumir a gestão do armazém da propriedade, se tornando responsável pela qualidade e criação de micro lotes de café na fazenda, a produtora reflete que “o café é uma verdadeira caixa de surpresas. Podemos colher o mesmo café por duas safras no mesmo local e, ainda assim, os cafés não serão iguais. Esse é o desafio: ter um manejo equilibrado, conciso e eficiente para acompanhar o perfil do café e sempre padronizar nossa qualidade”.

Micro lotes são resultado de pesquisas e estudos contínuos, que envolvem exploração de novos métodos, o uso de leveduras inovadoras e um eficiente mapeamento. “Esses esforços visam identificar os cafés mais promissores e determinar os locais ideais para a colheita”, explica. 

A união de tecnologia e sustentabilidade para um manejo regenerativo em sua fazenda foi um dos motivos que fez com que Mariana fosse reconhecida pelo Prêmio Mulheres do Agro. “Temos um controle rigoroso da irrigação, que é monitorada por estações meteorológicas e tensiômetros. As estações fornecem dados climáticos em tempo real, permitindo ajustes imediatos na irrigação conforme necessário. Os tensiômetros, por sua vez, monitoram a umidade do solo, assegurando que as plantas recebam a quantidade exata de água”, conta a produtora. Com essa combinação de tecnologias, ela economiza recursos hídricos e otimiza o crescimento das plantas, promovendo uma produção mais eficiente. “Receber o prêmio e todo o suporte levaram meu trabalho para frente. Espero que mais mulheres possam se destacar no cenário da cafeicultura.” 

Acompanhar as inovações no agronegócio é essencial para otimização e precisão nas decisões da fazenda. Por isso, Mariana investe em monitoramento em tempo real, o que otimiza a rastreabilidade das operações agrícolas.

 “Avaliamos indicadores de eficiência energética como principais medidores de eficácia no uso dos equipamentos, gerenciando o consumo e desenvolvendo rotas logísticas para otimizar o uso de combustível”, explica. Além disso, soluções digitais permitem o monitoramento de pragas e doenças, gerando mapas de calor que auxiliam na realização de pulverizações mais precisas, evitando desperdício. 

As inscrições para a sétima edição do Prêmio Mulheres do Agro estão abertas até 31 de julho. Para se inscrever ou indicar uma produtora rural, basta acessar o site da premiação.

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Classificação Indicativa: Livre

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