Política
Publicado em 18/06/2024, às 14h17 Lara Curcino / BNews Lara Curcino, direto de Brasília
O Salão Verde da Câmara dos Deputados foi tomado, nesta terça-feira (18), pelos batuques inconfundíveis do bloco Filhos de Gandhy, o primeiro afoxé do Brasil.
Inscreva-se no canal do BNews no WhatsApp
A agremiação esteve no Plenário da Casa para uma sessão solene em homenagem aos seus 75 anos. O tributo foi proposto pelo deputado federal Jorge Solla (PT-BA). Ao BNews, ele destacou a importância da tradição do bloco, em meio a um processo também de renovação.
"O Filhos de Gandhy traz essa tradição, mas também se renova, se torna jovem, com a história da resistência da luta, em um momento em que as políticas culturais voltam. O bloco, inclusive, acabou de ganhar um edital para ser o parceiro do Ministério da Saúde na Bahia. Então está se renovando e se integrando e isso é muito importante", pontuou.
Autoridades marcaram presença na sessão, como o presidente da Fundação Palmares, João Jorge, e o secretário de Cultura da Bahia, Bruno Monteiro. O gestor estadual afirmou que ressaltou a relevância nacional do bloco.
"A sessão foi proposta por um parlamentar baiano, mas deputados de outros estados discursaram em homenagem ao Filhos de Gandhy durante a sessão, como Erika Kokay (PT-DF). Isso mostra a importância que o bloco tem para todo o Brasil. É o primeiro afoxé do país, a origem dos blocos afro", comentou.
O presidente do Filhos de Gandhy, Gilsoney Oliveira, se emocionou ao discursar na sessão solene. Ele explicou ao BNews que o a homenagem e o reconhecimento são fundamentais para o fortalecimento do bloco.
"Me emociono porque homenagens como essa aqui na Câmara são muito importantes, porque são a prova de que somos reconhecidos pela nossa história e tradição. Por isso estamos fazendo essa festa linda aqui, para agradecer a essa homenagem", disse.
A banda esteve presente e deu "uma palhinha" antes do discurso de Gilsoney no Plenário. Depois do fim da sessão, eles desfilaram, com muita música e dança, até a saída da Casa.
O desfile chamou a atenção de quem passou pelos corredores da Câmara em meio à performance do bloco, que se juntou à celebração para cantar junto.
História
A agremiação foi fundada no dia 18 de fevereiro de 1949, por trabalhadores negros portuários de Salvador, e se consolidou como o maior afoxé do Brasil.
Esta, inclusive, não é a primeira vez que a Câmara Federal homenageia o Filhos de Gandhy. Uma outra sessão solene, realizada em 2019, prestou tributo aos 70 anos do bloco.
À época, o ato foi sugestão dos deputados Daniel Almeida (PCdoB-BA) e João Roma, que integrava o PRB, atualmente é do PL e não cumpre mais mandato vigente.
Logo após o fim do Carnaval de Salvador 2024, na semana em que o Filhos de Gandhy completou 75 anos, o bloco fez uma série de eventos na capital baiana para marcar a data.
As festas contaram com uma missa na tradicional Igreja do Rosário dos Pretos, no Pelourinho, e shows com participações de Gerônimo, Samba Trato e Virgílio Forrozeiro.
Uma das manifestações culturais mais importantes do Brasil, o Filhos de Gandhy busca agora ser reconhecido como Patrimônio Imaterial da Bahia. A Secretaria Estadual de Cultura já deu entrada no processo no início do ano e agora passa por trâmites burocráticos.
De acordo com o Instituto do Patrimônio Artístico e Cultural do Estado da Bahia (Ipac), o registro de bens culturais de natureza imaterial é uma forma de identificação e produção de conhecimento sobre o bem cultural, de forma a permitir a continuidade dessa forma de patrimônio.
Em 2010, o Desfile dos Afoxés foi reconhecido como patrimônio cultural imaterial da Bahia, em um decreto assinado pelo então governador Jaques Wagner (PT).
Sessão adiada
A homenagem estava marcada para o dia 14 de maio. O voo que levaria o bloco, no entanto, foi cancelado de última hora, sem maiores explicações pela Latam. Por esse motivo, a sessão precisou ser remarcada para esta terça (18).